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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Felizmente há Luar!

A Censura

Lápis Azul: O “lápis azul” riscou notícias, fados, peças de teatro e livros, apagou anúncios publicitários, caricaturas e pinturas de parede. Sendo proibida qualquer referência ao material censurado, poucas foram as oportunidades de ver o que se perdeu.(4) “ (...) Com Salazar, a Censura carimbava CORTADO quando os cortes eram integrais, AUTORIZADO COM CORTES quando eram parciais, e também apunha o carimbo de SUSPENSO , nos casos em que era requerida decisão superior. Com Caetano, o Exame Prévio carimbava PROIBIDO nas provas cortadas na íntegra, AUTORIZADO PARCIALMENTE nas que sofressem cortes parciais e DEMORADO nas que fossem sujeitas a instância superior. As que passavam sem cortes eram simplesmente carimbadas a azul com a designação VISADO (no tempo de Salazar) ou VISTO (no de Caetano). Todos os artigos passavam pelo exame prévio e só depois seriam publicados, se os censores o autorizassem (...)”.





Marcello Caetano levou mais longe a encenação da liberdade.

A partir de Junho de 1972, com a entrada em vigor da Lei de Imprensa que o regime fizera aprovar em Novembro de 1971, a expressão VISADO PELA CENSURA foi erradicada das páginas dos jornais.

Mas a censura manteve-se através do regime de Exame Prévio, evolução registada nas provas a partir de Junho de 1972 (...) “













Saber mais: http://srec.azores.gov.pt/dre/sd/115161010600/contacto/0708/outrsocontactos/0607/0607/espacodomundo/censura.htm

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Sátira

 
 
Para verem como era a Av. 5 de Outubro e outras ruas,
de acordo com o que falámos durante a Visita ao Centro Histórico
Largo de S. Pedro. 1931
 
A sátira sempre esteve presente no Carnaval de Torres.
Deixo um excerto da autoria do Dr. Jaime Umbelino, onde ecoam versos de Os Lusíadas (epis. de Inês de Castro), aqui alterados para a dimensão cómica:
 
Trecho do discurso ao Rei do Carnaval, em 1940:

Estava a linda Inês posta em sossego
(Aonde não se sabe nem interessa)
Na margem do Sizandro ou do Mondego
- Era aí o teatro da tal peça –
Quando o Adamastor, irado e cego,
Se alevantou, sentado na tripeça,
E, calmo, disse assim, por entre as pedras:
Carnaval só há um: - em Torres Vedras!

E as ninfas e os faunos e as sereias,
Soprando na trombeta a alta Fama,
Trataram de secar ao sol as meias,
Dormiram... levantaram-se da cama,
E vieram calçando mil areias,
Sem medo ao sol, à chuva ao vento, à lama
Atravessando o mar e os oceanos ...
Só para ver o Chafariz dos Canos!...
 
 

domingo, 2 de fevereiro de 2014

O Português segundo FP




As virtudes do tipo português


“homem harmónico, mente segura e planeadora, braço apto a realizar o que ele próprio planeou. Reunia a audácia e a ciência" F. Pessoa

“Esse português fez as Descobertas, criou a civilização transoceânica moderna, e depois foi-se embora. Foi-se embora em Alcácer Quibir, mas deixou alguns parentes, que têm estado  sempre, e continuam estando, à espera dele.” F. Pessoa



 

O Herói (arquétipo do português) é:

-     Consagrado a uma missão

-     Agente de uma vontade transcendente e divina

-     Capaz de estar à altura, de ler os sinais e agir em conformidade:

-     Sente-se impelido/ é chamado

-     Planeia/ sonha

-     Age
 
Assim:

-     As figuras históricas que desfilam na Mensagem valem pelo ideal que representam: valentia, arrojo, previsão, fé, «loucura», sentido de missão…
- Cada um é um exemplo do que de melhor reside no fundo da nação, «à espera» de depertar, de novo. Por isso: «É a Hora!» 



 

Mensagem - ideal e mito


ØA Mensagem apresenta uma leitura simbólica e mítica da História de Portugal.


ØO que em Os Lusíadas é ação/história, na Mensagem é ideal/mito.


Ø Parte de um núcleo histórico concreto (como Os Lusíadas), e de personagens com existência histórica (como Os Lusíadas), mas


Ø O que interessa ao poeta, o que une todos esses “heróis” (ganhadores ou perdedores), é:

Ø o seu lado ideal e mítico

Øo cumprimento de uma missão maior a que foram chamados

Øa “febre d’Além”

Øa grandeza de alma insatisfeita

Øo sonho que eleva a humanidade acima da “besta sadia”.


ØTem por base a ideia mítica do destino (ou desígnio) dos povos para determinadas missões:

Ø “Deus ou os deuses talharam o destino dos povos.” (J. Prado Coelho)                                                                                 

ØA Mensagem  representa o “elogio do Português, desvendador e dominador de mundos”, não enquanto poderio terreno, mas enquanto ideal, procura de Absoluto.


ØO Império Português do Século XVI é visto como um “obscuro e carnal arremedo” desse outro Império Espiritual por achar:  

ØCumpriu-se o Mar, e o império se desfez./Senhor, falta cumprir-se Portugal!”






MENSAGEM - o V Império

 



Fernando Pessoa e a teoria dos Impérios

 

1º - Império Grego (que sintetizou e ampliou os conhecimentos/a experiência dos antigos

impérios)

2º - Império Romano (que integra e sintetiza a cultura grega)

3º - Império Cristão (fusão do mundo grego e romano, integrando o elemento hebraico)

4º - Império Europeu / Inglês (ampliado por toda a terra e resultado da fusão do mundo

antigo com a moral cristã)

5º - O Quinto Império (o qual “ fundirá os quatro
anteriores com tudo quanto esteja fora deles”):

O primeiro império verdadeiramente universal;

Um Império Espiritual.

O desígnio de Portugal é cumpri-lo :

“Depois da conquista dos mares deve vir a conquista das almas.”
 

Mensagem e Os Lusíadas


Mensagem e Os Lusíadas

A Mensagem é um livro de 44 poemas breves, escritos em várias épocas, que, no seu conjunto, constituem um longo poema. Apresenta uma leitura simbólica e mítica da História de Portugal. Apesar de partir de um núcleo histórico concreto, e de personagens com existência histórica, o que interessa ao poeta, o que une todos esses “heróis” (ganhadores ou perdedores), é o seu lado ideal e mítico, o cumprimento de uma missão maior a que foram chamados, a “febre d’Além” (ver D. Fernando, Infante de Portugal), a grandeza de alma insatisfeita, o sonho que eleva a humanidade acima da “besta sadia”. A matéria literária é histórica. A leitura dela feita é lírica, simbólica e mítica.

 Na Mensagem, Portugal é um instrumento de Deus; os heróis cumprem um destino que os ultrapassa: “Foi Deus a alma e o corpo Portugal”. (F.P.)  “Deus ou os deuses talharam o destino dos povos.” (J. Prado Coelho)

 

A Mensagem é um “elogio do Português, desvendador e dominador de mundos”, não enquanto poderio terreno, mas enquanto ideal, procura de Absoluto. Por isso o Império Português do Século XVI foi apenas um “obscuro e carnal arremedo” desse outro Império Espiritual por achar:   Cumpriu-se o Mar, e o império se desfez./Senhor, falta cumprir-se Portugal!” . Pessoa exalta não o Império terreno, mas o Projecto, a Ideia condutora, o imaterial, o sonho, o mito, a fome de impossível, a loucura enquanto arrojo, quimera.

“Depois da conquista dos mares deve vir a conquista das almas.”
 

Também Camões e Os Lusíadas apresentam uma visão mística e de missão da História de Portugal. D. Sebastião n’Os Lusíadas é “Maravilha fatal da nossa idade, / Dada ao mundo por Deus, que todo o mande, /Para do mundo a Deus dar parte grande” (para alargar a Cristandade). D. Sebastião é o símbolo do nosso messianismo – promessa, esperança, salvação, renovação. Mas muito do que em Os Lusíadas é acção/história, na Mensagem é já só ideal / mito. Do destinatário real de Os Lusíadas (D. Sebastião, rei de Portugal em 1572) Camões espera acção concreta ligada ao ideal de cruzada, num tempo específico, face a problemas, situações e vícios enumerados ao longo da obra, nos finais dos cantos. Para Pessoa, a evocação da figura é do âmbito do símbolo, do mito. Pessoa no-lo afirma: 

«O sebastianismo, fundamentalmente, o que é? É um movimento religioso, feito em volta duma figura nacional no sentido dum mito. / No sentido simbólico D. Sebastião é Portugal: Portugal que perdeu a grandeza com D. Sebastião, e que só voltará a tê-la com o regresso dele, regresso simbólico. (…) morto D. Sebastião, o corpo, se conseguirmos evocar qualquer coisa em nós que se assemelhe à forma do esforço de D. Sebastião, ipso facto o teremos evocado (…) Por isso quando houverdes criado uma coisa cuja forma seja idêntica à do pensamento de D. Sebastião, D. Sebastião terá regressado.»

Fernando Pessoa, in Sobre Portugal, ed. Ática (sublinhado, meu)

 

Quanto à estrutura Os Lusíadas são pela forma e pela substância (exaltação da acção humana) uma epopeia clássica, a narração onde se entrelaçam a Viagem de Vasco da Gama, as intrigas dos Deuses e a História de Portugal.

A estrutura da Mensagem tem por base uma teoria cíclica – a das Idades; está dividido em três partes, pois olha a história da pátria como o mito de:
nascimento (Brasão),
- vida (Mar Português)
- morte de um mundo, seguida dum renascimento (O Encoberto):
 “Ó Portugal, hoje és nevoeiro... / É a Hora ! “   (“Nevoeiro”) .

A primeira e a terceira parte estão subdivididas: Brasão subdivide-se de acordo com os símbolos da bandeira nacional - «Os  Campos», «Os Castelos», «As Quinas», «A Coroa» e «O Timbre»; a 3ª apresenta «Os Símbolos», «Os Avisos» e «Os Tempos».

Todas estas divisões e designações revelam um sentido emblemático, ocultista; mais interpretativo e espiritual que narrativo/épico (como acontece em Os Lusíadas). Pessoa vê símbolos em tudo.