Aqui fica um excerto da primeira adaptação ao cinema desta obra de Almeida Garrett.
Ficha Técnica
- Título : Frei Luís de Sousa
- Realização : António Lopes Ribeiro
- Caracterizações : José Maria Sanchez
- Fotografia : Aquilino Mendes
- Música : Luís de Freitas Branco
- Cenários : Frederico George
- Guarda-Roupa : Alberto Anahory
- Produtora : Lisboa Filme
- Distribuição : Tobis Portuguesa
- Formato : Preto e Branco
- Género : Drama
- Duração : 113 minutos
- Estreia : 21 de Setembro de 1950 no cinema S. Jorge, em Lisboa
Querido Diário
ResponderEliminarNestes últimos dias tenho sentido uma tristeza muito grande dentro de mim, minha mãe já não chora, já não se infada comigo, apesar de nunca o fazer. Será que lhe ando a dar muitos cuidados?
Minha pobre mãe é esta a minha grande tristeza, não tenho nada e tenho saúde. Minha mãe até me diz que hei-de viver muitos anos para consolar e amparar meus pais que tanto me querem. Mas esta tristeza é mais forte, passo noites inteiras em claro a lidar nisto e a lembrar-me de quantas palavras lhe tenho ouvido, e a meu pai recorda-me da mais pequena ação e gesto. Minha mãe quis que lhe contasse que flores tinha no meu jardim, e como estavam mas infelizmente murchou tudo, tudo estragado da calma.
As papoulas são as que fazem dormir colhi-as para as meter esta noite debaixo do meu cabeçal, quero dormir um sono, não quero sonhar.
Minha mãe já me diz que sonho acordada, sou a única filha e sei que todas as esperanças de meu pai são postas em mim. Já não sei o que hei-de fazer, estudo, leio, se bem que minha mãe acha que leio é demais, que me canso, que não me distraio como as outras donzelas da minha idade.
O que eu sou, só eu sei, e não sei nada senão que o que devia ser não sou. Oh porque não havia de eu ter um irmão que fosse um galhardo e valente mancebo capaz de comandar os terços de meu pai, de pegar numa lança daquelas com que os nossos avós corriam a Índia, levando adiante de si turcos e gentios! Um belo moço que fosse e retrato daquele gentil cavaleiro de Malta que ali está. Como lhe iria ficar bem o preto, com aquela cruz tão alva em cima. Mas não foi a vontade de Deus ter um irmão. Tomara que meu pai chegue de Lisboa...
Vânia Lourenço