Trabalho patente na Exposição Linhas Cruzadas, T. Vedras, 2010
A epopeia tem, por natureza, um
carácter eufórico e de exaltação das façanhas do herói (individual e colectivo,
no caso d’Os Lusíadas).
No
entanto, Camões – com lucidez e espírito crítico – revela o seu desencanto
frente a uma pátria “mergulhada numa austera, apagada e vil tristeza”,
intervindo criticamente e/ou didacticamente, sobretudo no final dos cantos.
CAMÕES FAZ REFLEXÕES CRÍTICAS / ADVERTÊNCIAS dirigidas a:
Ø Canto I – Insegurança
e fragilidade da vida: “(…)Onde terá segura a curta vida/Que não se arme e
indigne o Céu sereno/Contra um bicho da terra tão pequeno?” (C.1, 106)
Ø Canto IV – Ambição
e ousadia dos navegantes e suas previsíveis consequências nefastas, a
exemplo de Adão, Prometeu, Ícaro; a evidência deste arrojo como próprio da
“humana geração”, essa “estranha condição”. (IV, 104)
Ø Canto V – Falta de
interesse pelas Artes e as Letras: “(…) não se ver prezado o verso e a
rima/ Porque quem não sabe arte, não na estima.” (V, 87); o mesmo motivo será
repetido nos Cs. VII e X.
o Adverte para que os
heróis devem às Musas a sua fama, ou seja: o verso/a rima são necessários à
imortalização dos heróis: “ Às Musas agradeça o nosso Gama/O muito amor da
pátria, que as obriga/A dar aos seus, na lira, nome e fama”
Ø Canto VI – Censura
da inacção, do luxo; crítica aos que dormem à sombra dos antepassados, aos
que se acomodam;
· Advertência de que a honra
só se alcança com virtude e acção. Necessidade de “árduo sofrimento”, de
“trabalhos graves e temores”, do buscar com “seu forçoso braço” a “fama” e as
“honra imortais e graus maiores”; (VI, 95-97)
Ø Canto VII – Ingratidão
da pátria perante o seu mérito; Camões – “Numa mão sempre a espada e noutra
a pena” – lastima a falta de “prémio” (reconhecimento) por parte “daqueles que
(…) cantando andava”;
Ø Canto VIII – Poder
corruptor do dinheiro; este “faz traidores e falsos os amigos”, “A mais
nobres faz fazer vilezas”, “Os juízos cegando e as consciências”, “faz e desfaz
leis”; o dinheiro “corrompe” e “ilude”; (VIII, 96-99)
Ø Canto IX – Censura
das “honras vãs” - cobiça, avareza e
tirania infame – que “verdadeiro valor não dão à gente” por oposição às
“riquezas merecidas” [leis justas; feitos de armas]; (IX, 92-94)
·Advertência de que o
ócio transforma o livre em escravo: “Se quiserdes no mundo ser tamanhos, /
Despertai já do sono do ócio ignavo [indolente], / Que o ânimo, de livre, faz
escravo.”
Ø Canto X – Cansaço
de cantar “a gente surda e endurecida”; Crítica à cobiça, avareza e tristeza
moral da pátria: “metida no gosto da cobiça (…) apagada e vil tristeza”
MENSAGEM
Ø É publicada num
momento que o poeta considera triste, de falta de arrojo criador, de crise de
identidade nacional
Ø Conjuga
características da épica e da lírica:
§ Épica: matéria
histórica/glorificação dos heróis
§ Lírica: expressão da
subjectividade do “eu”; “sonho de um sonho”; leitura interpretativa e pessoal
Ø Tem um carácter:
o Profético
Ø A profecia do V
Império, com dimensão espiritual;
Ø A presença de um
sebastianismo renovador;
Ø D. Sebastião como
figura tutelar e inspiradora
o Simbólico
e mítico – valorização duma leitura mítica da História de Portugal,
carregada de simbologia:
Ø Sinais, avisos,
sagrações…
Ø Elementos da
mitologia, da heráldica, das sociedades secretas
o Esotérico (oculto,misteriosos, que poucos conseguem compreender;
ensinamento ligado ao ocultismo,com um círculo
restrito e fechado de ouvintes.)
Ø O poeta surge como: mediador, voz,
profeta: estabelece a ligação entre Deus e os homens, na revelação dos
mistérios divinos de Portugal.
Ø O poeta, tal como a
pátria, tem uma missão sagrada.
Ø
O Herói (arquétipo do português)
é:
· Consagrado a uma missão
· Agente de uma vontade
transcendente e divina
· Capaz de estar à
altura, de ler os sinais e agir em conformidade:
Ø Sente-se impelido/ é
chamado
Ø Planeia/ sonha
Ø Age
· As figuras históricas
que desfilam na Mensagem valem pelo
ideal que representam: valentia, arrojo, previsão, fé, «loucura», sentido de
missão…
Ø Visão sacrificial e
empreendedora da heroicidade: “Quem quer passar além do Bojador/Tem de passar
além da dor”; “Valeu a pena? /Tudo vale a pena/Se a alma não é pequena.”, “O
esforço é grande, o homem é pequeno”
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