Número total de visualizações de páginas

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Fernando Pessoa ortónimo - revisões

 Ficam exercícios para treino, disponíveis nos sítios indicados.

1
I
Lê atentamente o texto que se segue:
TEXTO

A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo ? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

Fernando Pessoa, Poesia II (Europa-América)

1. No poema o assunto estrutura-se de acordo com uma oposição temporal.
1.1. Explicita-a.

1.2. Identifica as formas verbais que sustentam essa oposição.

2. O eu poético manifesta no momento em que escreve um determinado estado de espírito.
2.1. Descreve-o e justifica-o.

3. Comenta o sentido dos versos:
«A criança que fui chora na estrada. Deixei-a ali quando vim ser quem sou...»

4. Divide o poema em partes lógicas, justificando-as.

5. Indica o tema tratado nesta composição e relaciona-o com as temáticas mais recorrentes da poesia pessoana.

6. Descreve a estrutura formal do poema.

7. Identifica três recursos estilísticos no poema, explicitando o seu valor expressivo.



http://12abcerco.blogspot.pt/2011/10/teste-pessoa-ortonimo-12-b-e-c.html

 

2
"TOMA-ME, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho. Eu sou um rei
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.

Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei;
E meu ceptro e coroa, - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.

Minha cota de malha tão inútil,
Minhas esporas, de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.
Fernando Pessoa, Poesias


1. Neste poema, o sujeito poético traduz uma certa atitude perante a vida.
1.1. Descreve-a?

1.2. Faz o levantamento dos elementos textuais que melhor revelam essa atitude.

1.3. Identifica o processo estilístico dominante que nos ajuda a entender o drama do sujeito poético.

2. Embora a análise do eu seja fundamental, há no texto uma relação eu/tu.

2.1. Por que razão terá o poeta escolhido como destinatário a "noite eterna"?

3. O acto de poetização realiza-se a nível do significado e a nível do significante.

3.1. Selecciona no poema dois exemplos bem significativos de cada um desses aspectos.
3.1.1. Justifica a escolha.

4. Comprova que o poema se aproxima de uma modalidade poética clássica.

5. Retira do texto alguns elementos característicos da poesia pessoana. Justifica.


3.



 De acordo com o combinado, deixo alguns materiais «fiáveis», disponíveis nos sítios indicados.

1


"O essencial a reter sobre F. Pessoa - Ortónimo

Na poesia do ortónimo coexistem duas vertentes: a tradicional e a modernista. Algumas das suas composições seguem na continuidade do lirismo português, com marcas do saudosismo; outras iniciam o processo de ruptura, que se concretiza nos heterónimos ou nas experiências modernistas. 

A poesia, a cujo conjunto Pessoa queria dar o título Cancioneiro, é marcada pelo conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade pura e a frustração que a consciência-de-si implica (ex.: «Ela canta, pobre ceifeira»). 

Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar e o sentir. A fragmentação está evidente, por exemplo, em Meu coração é um pórtico partido, ou nos poemas interseccionistas Hora Absurda e Chuva Oblíqua.

O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade surge como tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência. (...)

A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade.

O poeta recorre à ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção da arte.
  • As temáticas:
- o sonho; a intersecção entre o sonho e a realidade (ex.: Chuva Oblíqua); 

- a angústia existencial e a nostalgia (do Eu, de um bem perdido, das imagens da infância... 

- a distância entre o idealizado e o realizado - e a consequente frustração ("Tudo o que faço ou medito");

- a máscara e o fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as emoções ou o que quer comunicar (ex.: Autopsicografia);

- a intelectualização das emoções e dos sentimentos para elaboração da arte;
(...)
- tradução dos sentimentos na linguagem do leitor, pois o que se sente é incomunicável."

in Moreira, V Pimenta, H, Acesso ao Ensino Superior, Português A e B 2000, Porto Editora.



Lembrar:
“O tempo e a desagregação: o regresso à infância
Do mundo perdido da infância, Pessoa sente a nostalgia. Ele que foi "criança contente de nada" e que em adolescente aspirou a tudo, experimenta agora a desagregação do tempo e de tudo. Um profundo desencanto e a angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem dos dias. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam, sente a saudade de uma ternura que lhe passou ao lado. Busca múltiplas emoções e abraça sonhos impossíveis, mas acaba "sem alegria nem aspiração". Tenta manter vivo o "enigma" e a "visão" do que foi, restando-lhe a inquietação, a solidão e a ansiedade”


http://aulaberta.blogspot.pt/2005_10_01_archive.html


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

F. Pessoa e a poesia de Caeiro


 

Pessoa sobre Caeiro:


"O que o mestre Caeiro me ensinou foi a ter clareza"
"O meu mestre Caeiro disse-nos uma vez que, quando o mundo material não tivesse outra vantagem, tinha a de ser visível"



Excertos de um artigo sobre F. Pessoa e a poesia de Caeiro
Os homens que viveram entre os séculos XIX e XX assistiram a uma grande evolução no mundo tanto científica como tecnicologicamente. Essas transformações interferiram muito no modo de vida dessas pessoas que viram suas realidades modificadas quase repentinamente. Descobriu-se, por exemplo, a eletricidade, inventou-se o automóvel, o avião, o telefone etc., descobertas e invenções que foram de extrema importância.
Homem do início do século XX, Fernando Pessoa vivenciou de perto todo esse processo de transformação pela qual o mundo estava passando e sentiu todo o dilaceramento íntimo do homem diante de um mundo cujos valores, definições, limites e certezas tinham caído por terra.
Fernando Pessoa é uma das personalidades que mais se destaca dentro do cenário da Literatura Mundial (...) foi uma das consciências mais lúcidas no mundo moderno, que teve a intuição da grande mutação ocorrida no início do século.
o que mais gerou conflito no homem moderno foi quando ele percebeu que não era só com relação às coisas do mundo que ele se deparava com seu conhecimento intuitivo, mas diante de si mesmo. (…) O homem entrou no século XX sem nenhuma base nem perspetiva.
Diante do caos, Fernando Pessoa criou seus heterónimos, personalidades singulares, numa tentativa de autoconhecimento. Cada um de seus heterónimos foi uma busca de si mesmo por vias diferentes. Fernando Pessoa foi um investigador incansável do conhecimento, de um possível conhecimento objetivo das coisas do universo (homem, mundo, Deus) em meio a um universo em constante transformação. (1)



CAEIRO

É imaginado como um poeta pagão, panteísta, liberto das ideias religiosas, quer de Deus quer de deuses:
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou infelicidade.
(XXI).

Caeiro diz ser apenas um guardador de rebanhos. Como ele mesmo coloca, o rebanho que ele guarda é seus pensamentos, que na verdade (…) são sensações:
Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
(IX)
 
Caeiro defende que o real é a própria exterioridade e que não carece de subjetivismos. (…) Caeiro entrega-se à infinita variedade do espetáculo das sensações, principalmente às visuais.

É preciso não saber o que são flores e pedras e rios
Para falar dos sentimentos deles.
(XXVIII)
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar.

(XXVI)
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheira-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido. (IX)




``A espantosa realidade das coisas/É a minha descoberta de todos os dias. Cada coisa é o que é, /E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, /E quanto isso me basta.'' A. Caeiro


 

(1)
MARAUS, Elizabete. Caeiro reinventa sua
realidade: uma leitura de o guardador de rebanhos.

In: CELLI – COLÓQUIO DE ESTUDOS LINGUÍSTICOS E LITERÁRIOS. 3, 2007,
Maringá
Disponível em http://www.ple.uem.br/3celli_anais/trabalhos/estudos_literarios/pdf_literario/035.pdf




quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Fernando Pessoa(s) e os Heterónimos

 
Pessoa  - que é toda a gente




 
Interessante, fácil de entender, com bastantes referências sobre a vida de Pessoa e a relação entre a vida e a obra


 

Fernando Pessoa



Vale a pena ver - este homem excecional, cuja obra está hoje traduzida em 37 línguas e é admirado, estudado, querido em todas as latitudes.


Questionário sobre F. Pessoa ortónimo


 
O poeta com 13 anos de idade
 
 
ISTO
Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir! Sinta quem lê!


 
Fernando Pessoa
 
 

 


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

10 minutos sobre Pessoa

Breve panorâmica sobre a obra de Fernando Pessoa, pelo Prof. Arnaldo Saraiva, da Un. do Porto