1
I
Lê atentamente o texto que se segue:
TEXTO
A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.
Ah, como hei-de encontrá-lo ? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.
Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,
Na ausência, ao menos saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.
Fernando Pessoa, Poesia II (Europa-América)
1. No poema o assunto estrutura-se de acordo com uma oposição temporal.
1.1. Explicita-a.
1.2. Identifica as formas verbais que sustentam essa oposição.
2. O eu poético manifesta no momento em que escreve um determinado estado de espírito.
2.1. Descreve-o e justifica-o.
3. Comenta o sentido dos versos:
«A criança que fui chora na estrada. Deixei-a ali quando vim ser quem sou...»
4. Divide o poema em partes lógicas, justificando-as.
5. Indica o tema tratado nesta composição e relaciona-o com as temáticas mais recorrentes da poesia pessoana.
6. Descreve a estrutura formal do poema.
7. Identifica três recursos estilísticos no poema, explicitando o seu valor expressivo.
http://12abcerco.blogspot.pt/2011/10/teste-pessoa-ortonimo-12-b-e-c.html
2
"TOMA-ME, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho. Eu sou um rei
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.
Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei;
E meu ceptro e coroa, - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.
Minha cota de malha tão inútil,
Minhas esporas, de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.
Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.
Fernando Pessoa, Poesias
Que voluntariamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.
Minha espada, pesada a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei;
E meu ceptro e coroa, - eu os deixei
Na antecâmara, feitos em pedaços.
Minha cota de malha tão inútil,
Minhas esporas, de um tinir tão fútil,
Deixei-as pela fria escadaria.
Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.
Fernando Pessoa, Poesias
1. Neste poema, o sujeito poético traduz uma certa atitude perante a vida.
1.1. Descreve-a?
1.2. Faz o levantamento dos elementos textuais que melhor revelam essa atitude.
1.3. Identifica o processo estilístico dominante que nos ajuda a entender o drama do sujeito poético.
2. Embora a análise do eu seja fundamental, há no texto uma relação eu/tu.
2.1. Por que razão terá o poeta escolhido como destinatário a "noite eterna"?
3. O acto de poetização realiza-se a nível do significado e a nível do significante.
3.1. Selecciona no poema dois exemplos bem significativos de cada um desses aspectos.
3.1.1. Justifica a escolha.
4. Comprova que o poema se aproxima de uma modalidade poética clássica.
5. Retira do texto alguns elementos característicos da poesia pessoana. Justifica.
De acordo com o combinado, deixo alguns materiais «fiáveis», disponíveis nos sítios indicados.
1
"O essencial a reter sobre F. Pessoa - Ortónimo
Na poesia do ortónimo coexistem duas vertentes: a tradicional e a modernista. Algumas das suas composições seguem na continuidade do lirismo português, com marcas do saudosismo; outras iniciam o processo de ruptura, que se concretiza nos heterónimos ou nas experiências modernistas.
A poesia, a cujo conjunto Pessoa queria dar o título Cancioneiro, é marcada pelo conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade pura e a frustração que a consciência-de-si implica (ex.: «Ela canta, pobre ceifeira»).
Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar e o sentir. A fragmentação está evidente, por exemplo, em Meu coração é um pórtico partido, ou nos poemas interseccionistas Hora Absurda e Chuva Oblíqua.
O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e a idealidade surge como tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência. (...)
A poesia do ortónimo revela a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade.
O poeta recorre à ironia para pôr tudo em causa, inclusive a própria sinceridade que, com o fingimento, possibilita a construção da arte.
- As temáticas:
- o sonho; a
intersecção entre o sonho e a realidade (ex.: Chuva Oblíqua);
- a angústia
existencial e a nostalgia (do Eu, de um bem perdido, das imagens da infância...
- a distância
entre o idealizado e o realizado - e a consequente frustração ("Tudo o
que faço ou medito");
- a máscara e o
fingimento como elaboração mental dos conceitos que exprimem as emoções ou o
que quer comunicar (ex.: Autopsicografia);
- a
intelectualização das emoções e dos sentimentos para elaboração da arte;
(...)
- tradução dos
sentimentos na linguagem do leitor, pois o que se sente é incomunicável."
in Moreira, V
Pimenta, H, Acesso ao Ensino Superior, Português A e B 2000, Porto
Editora.
Lembrar:
“O tempo e a desagregação: o regresso à infância
Do mundo perdido da infância, Pessoa sente a nostalgia. Ele que foi "criança contente de nada" e que em adolescente aspirou a tudo, experimenta agora a desagregação do tempo e de tudo. Um profundo desencanto e a angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem dos dias. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam, sente a saudade de uma ternura que lhe passou ao lado. Busca múltiplas emoções e abraça sonhos impossíveis, mas acaba "sem alegria nem aspiração". Tenta manter vivo o "enigma" e a "visão" do que foi, restando-lhe a inquietação, a solidão e a ansiedade”
Do mundo perdido da infância, Pessoa sente a nostalgia. Ele que foi "criança contente de nada" e que em adolescente aspirou a tudo, experimenta agora a desagregação do tempo e de tudo. Um profundo desencanto e a angústia acompanham o sentido da brevidade da vida e da passagem dos dias. Ao mesmo tempo que gostava de ter a infância das crianças que brincam, sente a saudade de uma ternura que lhe passou ao lado. Busca múltiplas emoções e abraça sonhos impossíveis, mas acaba "sem alegria nem aspiração". Tenta manter vivo o "enigma" e a "visão" do que foi, restando-lhe a inquietação, a solidão e a ansiedade”
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