Ricardo Reis propõe-nos que encontremos a felicidade, vivendo em conformidade com as leis do destino
que regem o mundo: tomando por mestra a Natureza e respeitando aquilo que o Destino e os deuses criaram para nós - "Cumpramos o que somos./Nada mais nos é dado".
Antes de nós nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
E as folhas não falavam
De outro modo do que hoje.
Passamos e agitamo-nos debalde.
Não fazemos mais ruído no que existe
Do que as folhas das árvores
Ou os passos do vento.
Tentemos pois com abandono assíduo
Entregar nosso esforço à Natureza
E não querer mais vida
Que a das árvores verdes.
Inutilmente parecemos grandes.
Salvo nós nada pelo mundo fora
Nos saúda a grandeza
Nem sem querer nos serve.
Se aqui, à beira-mar, o meu indício
Na areia o mar com ondas três o apaga,
Que fará na alta praia
Em que o mar é o Tempo?
Afinal, as árvores são anteriores a nós, e o vento também; e não desejam ser mais do que árvores e vento: "Tentemos pois com abandono assíduo/Entregar nosso esforço à Natureza/E não querer mais vida/Que a das árvores verdes.
Antes de nós nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
E as folhas não falavam
De outro modo do que hoje.
Passamos e agitamo-nos debalde.
Não fazemos mais ruído no que existe
Do que as folhas das árvores
Ou os passos do vento.
Tentemos pois com abandono assíduo
Entregar nosso esforço à Natureza
E não querer mais vida
Que a das árvores verdes.
Inutilmente parecemos grandes.
Salvo nós nada pelo mundo fora
Nos saúda a grandeza
Nem sem querer nos serve.
Se aqui, à beira-mar, o meu indício
Na areia o mar com ondas três o apaga,
Que fará na alta praia
Em que o mar é o Tempo?
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10
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1914
In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, 2000
In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, 2000
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.
29
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7
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1923
In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, 2000
In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, 2000
Créditos de imagens: https://www.google.pt/
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