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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A lição da Natureza em Ricardo Reis

Ricardo Reis propõe-nos que encontremos a felicidade, vivendo em conformidade com as leis do destino que regem o mundo: tomando por mestra a Natureza e respeitando aquilo que o Destino e os deuses criaram para nós - "Cumpramos o que somos./Nada mais nos é dado".
Afinal, as árvores são anteriores a nós, e o vento também; e não desejam ser mais do que árvores e vento: "Tentemos pois com abandono assíduo/Entregar nosso esforço à Natureza/E não querer mais vida/Que a das árvores verdes.


Antes de nós nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
      E as folhas não falavam
      De outro modo do que hoje.

Passamos e agitamo-nos debalde.
Não fazemos mais ruído no que existe
      Do que as folhas das árvores
      Ou os passos do vento.

Tentemos pois com abandono assíduo
Entregar nosso esforço à Natureza
      E não querer mais vida
      Que a das árvores verdes.

Inutilmente parecemos grandes.
Salvo nós nada pelo mundo fora
      Nos saúda a grandeza
      Nem sem querer nos serve.

Se aqui, à beira-mar, o meu indício
Na areia o mar com ondas três o apaga,
      Que fará na alta praia
      Em que o mar é o Tempo?

8 - 10 - 1914

In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, 2000
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.
29 - 7 - 1923

In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, 2000
Créditos de imagens: https://www.google.pt/

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