aceitar com altivez o destino
imposto
Não consentem os deuses mais
que a vida.
Tudo pois refusemos, que nos alce
A irrespiráveis píncaros,
Perenes sem ter flores.
Só de aceitar tenhamos a ciência,
E, enquanto bate o sangue em nossas fontes,
Nem se engelha connosco
O mesmo amor, duremos,
Como vidros, às luzes transparentes
E deixando escorrer a chuva triste,
Só mornos ao sol quente,
E reflectindo um pouco.
Tudo pois refusemos, que nos alce
A irrespiráveis píncaros,
Perenes sem ter flores.
Só de aceitar tenhamos a ciência,
E, enquanto bate o sangue em nossas fontes,
Nem se engelha connosco
O mesmo amor, duremos,
Como vidros, às luzes transparentes
E deixando escorrer a chuva triste,
Só mornos ao sol quente,
E reflectindo um pouco.
R.Reis. In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, 2000
Segundo
o preceito clássico, os poemas não devem apenas ser belos, mas agradáveis,
suaves, tranquilos, despertando sentimentos brandos.
Assim,
a poesia de Ricardo Reis apresenta uma grande perfeição formal,
equilíbrio e musicalidade. Embora - como na poesia clássica - não exista
rima, sendo o verso branco, é dada muita importância ao ritmo e há recurso
frequente à rima interior, à assonância* e, sobretudo, à aliteração
- "cada lago a lua toda/Brilha, porque alta
vive"; "Que alisa e agudece/Os dardos do sol alto", “Solenes na
alegria levemente”.
*assonância Repetição dos mesmos sons
vocálicos, em situação de sílaba tónica - "(...)mornos ao sol"
A
linguagem, por vezes com recurso a alguns latinismos, é erudita: referência à mitologia - Olimpo, Apolo, Fado, nomes – Neera, Flaco ou vocabulário mais incomum - volucres, ínfero, insciente, infausta; também se destaca pela
construção frásica própria da língua latina, dando origem à alteração da ordem
comum das palavras no Português (hipérbato).
Como
as suas odes (com origem na Grécia - Poemas líricos, de estrofes
simétricas, destinados ao canto e entoados entre os antigos gregos) são
essencialmente um convite a uma disciplina de vida, uma sugestão de aceitação
dos princípios morais e estéticos, é frequente o uso do imperativo, do conjuntivo
com valor de imperativo.
Lembra-se,
sobre o IMPERATIVO: a Gramática da Língua Portuguesa (Lisboa, Caminho,
2003), de Mira Mateus et al., (...) «este modo [imperativo] só
apresenta formas para as segundas pessoas do singular e do plural, sendo
substituído nos outros casos por formas do conjuntivo, nomeadamente a
primeira pessoa do plural e a terceira pessoa do singular e do plural, como,
por exemplo, em dance/dancemos/dancem. Quando se trata de formas
negativas, o modo imperativo é também realizado em todas as pessoas pelo
conjuntivo» (p. 256).
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